Santana do Cariri.
Técnicas de manejo ultrapassadas, como o uso de queimadas para o preparo
do solo na antecipação dos plantios, além da derrubada da vegetação
nativa sem a recomposição da mata através do reflorestamento, podem por
fim a toda vida vegetal e animal da Chapada do Araripe em pouco menos de
20 anos, segundo avaliam técnicos e ambientalistas.
Neste município, por
exemplo, o desmatamento já chega a 40% da área da Chapada e, conforme
afirmam os especialistas, este percentual poderá crescer desastrosamente
nos próximos anos, caso não sejam efetivados mecanismos para impedir a
realização das queimadas e das demais formas de desmatamento na região.
Os danos são causados
pelos próprios moradores de localidades que foram surgindo, aos poucos,
no sopé da Chapada. Com o apoio das administrações municipais, esses
locais cresceram, receberam certa infraestrutura e, atualmente, buscam
através da degradação ambiental suas sustentabilidades.
Carvão
Os agricultores, na
maioria pequenos produtores, sem conhecimento técnico em relação a novas
metodologias de plantio, acabam destruindo áreas nativas para criação
de rebanhos bovinos e para extração de madeira que, posteriormente, é
transformada em carvão.
“O pequeno agricultor,
na maioria dos casos, sequer tem conhecimento de que está criando
prejuízos à natureza. Há casos, no entanto, em que as devastações
acontecem propositalmente, sem que haja qualquer punição a quem comete o
crime ambiental”, informa Flávio Pontes, que trabalha como técnico
agrícola no município.
Na avaliação do técnico,
as causas do desmatamento podem ser explicadas devido à falta de
políticas públicas de fiscalização, preservação e, ainda, orientação aos
produtores, nos próprios municípios onde os casos de degradação
ambiental estão acontecendo. “A fiscalização é fundamental para que não
surjam novas áreas devastadas. No entanto, é preciso, também, criar
condições para que o produtor consiga realizar seu plantio de maneira a
não agredir a natureza. Daí a importância das gestões municipais criarem
estas condições”, ressalta Pontes.
O agricultor Leôncio
Peixoto reconhece que as práticas utilizadas no preparo do solo durante o
processo de plantação não trazem benefícios à Chapada. Ele, no entanto,
diz que a realização das queimadas, popularmente conhecidas por
“brocas”, ainda
é a maneira mais barata conhecida pelos agricultores para limpeza do solo.
“Eu concordo que causa
prejuízo à natureza. O negócio é que a broca sai mais em conta. Eu
também acho que prejudica mais quando a broca é muito grande. Em
pedaçinho de terra não causa muito prejuízo não. Era preciso que quem
broca numa área muito grande tivesse outro meio pra plantar sem aumentar
os gastos”, frisa.
Conforme afirma, se
houvesse outro meio de preparar a terra para o arado sem que os custos
da produção fossem ampliados, seria possível diminuir o desmatamento na
região. “O jeito que a gente conhece é esse. Eu acho que seria
importante se os agricultores pudessem conhecer outras formas de
plantar. Se tiver, reduz as brocas pela metade, eu acho”, diz.
Derrubada
As queimadas não são o
único problema na Chapada do Araripe quando o assunto é devastação
ambiental. O aproveitamento da floresta para fins de subsistência tem
ido mais além. Na região de Dom Leme, aonde a produção de abacaxi vem
crescendo nos últimos dois anos, a derrubada de árvores nativas para
produção de carvão vegetal vem gerando preocupação junto aos
ambientalistas da região.
Plantas como jequiti,
jequitibá, jatobá, cipó uva, dentre outras, estão sendo dizimadas,
afirmam os ambientalistas. “Há casos em que algumas espécies já não são
localizadas com tanta facilidade”, diz Flávio Pontes.
Roberto Crispim
Colaborador
Soluções
“Se não houver políticas para a Chapada do Araripe, vegetais e animais desaparecerão em cerca de 20 anos”
Flávio Pontes
Técnico agrícola
“O trabalho tem que ser feito em duas frentes. Fiscalização e educação ambiental. Assim a questão será resolvida”
Indalécio Freitas
Geólogo
Fonte: Diário do Nordeste
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