terça-feira, 12 de agosto de 2014

Pesquisador brasileiro ganha prêmio equivalente a 'Nobel' de matemática

O matemático Artur Ávila Cordeiro de Melo, de 35 anos, recebeu, nesta terça-feira (12), a Medalha Fields, um prêmio equivalente ao "Nobel" de matemática. Ávila é o primeiro pesquisador brasileiro e da América Latina a receber a medalha. Ela é dada pela União Internacional de Matemáticos (IMU) a quatro pesquisadores do mundo. O prêmio foi anunciado em um congresso de matemáticos na Coreia do Sul.
Artur Ávila ganhou prêmio Medalha Fields, o 'Nobel' de matemática' (Foto: Divulgação/IMU)No argumento, os diretores da IMU destacaram o trabalho de Ávila por suas "profundas contribuições na teoria dos sistemas dinâmicos unidimensionais", em que estuda o comportamento de sistemas sujeitos a alterações constantes. Esses sistemas podem ficar mais ou menos estáveis ou caóticos, e é difícil distinguir quando cada caso pode acontecer.
Os outros três ganhadores são Manjul Bhargava, da Universidade de Princeton (EUA); Martin Hairer, da Universidade de Warwick (Inglaterra) e Maryam Mirzakhani, da Universidade de Stanford (EUA), uma iraniana que é também a primeira mulher a ser premiada.
Teoria do caos
Uma das principais contribuições de Avila para a matemática, segundo o IMU, foi na área da teoria do caos, que busca descrever e prever como os sistemas dinâmicos evoluem com o tempo. Uma das bases dessa teoria é o chamado "efeito borboleta", que descreve como o bater de asas de borboleta desencadeia uma série de eventos que podem resultar em uma tempestade do outro lado do mundo.
Avila e seus colegas consideraram uma ampla classe de sistemas dinâmicos - os mapas unimodais - e provaram que, ao escolher um desses mapas aleatoriamente, ele será necessariamente ou regular ou estocástico, ou seja, com origem em processos não determinísticos. "Este trabalho fornece um quadro abrangente e unificado do comportamento desses sistemas", diz o comunicado do IMU.
Baralho de cartas
Outro trabalho de Avila destacado pelo IMU é sobre o conceito de "weak mixing", ou "mistura fraca". Pensando em um baralho de cartas, se uma pessoa simplesmente "cortar" o baralho, ou seja, pegar uma porção de cartas do topo e colocá-las embaixo do monte, as cartas não estarão verdadeiramente misturadas. Apenas estarão se movendo em um padrão cíclico. Elas só ficarão misturadas de verdade se forem embaralhadas do jeito tradicional, que faz com que as cartas de diferentes porções do monte se intercalem.
Há, portanto, "misturas fortes" e "misturas fracas". Avila descobriu que em um determinado sistema dinâmico chamado "transformação de troca de intervalo", a mistura é quase sempre fraca. "Esse trabalho está ligado a um trabalho mais recente de Avila e de Vincent Delecroix que investiga a mistura em sistemas de bilhar poligonais regulares. Sistemas de bilhar são utilizados em física estatística como modelos de movimentos de partículas", informou o IMU.
O prêmio Medalha Fields foi criado em 1936 pelo matemático canadense John Charles Fields, e é anunciado pela IMU a cada quatro anos para jovens matemáticos de até 40 anos de idade. Além da medalha, os quatro vencedores recebem 15 mil dólares canadenses, cada (R$ 31 mil). A premiação é considerada pelos norte-americanos e canadenses o prêmio mais importante da matemática. Já os europeus dão mais importância a outro prêmio internacional, o Abel.
A presidente Dilma Rouseff parabenizou o pesquisador brasileiro pelo prêmio internacional. "O reconhecimento mundial do trabalho de Avila enche de orgulho a ciência brasileira e todo o Brasil", escreveu Dilma em sua conta no Twitter.
Início nas olimpíadas
O carioca Artur Ávila começou sua carreira com as olimpíadas de matemática na época de escola. Hoje, divide as funções de diretor de pesquisa em dois importantes institutos: o Centre National de la Recherche Scientifique (CNRS), em Paris, e o Instituto Nacional de Matemática Pura e Aplicada (Impa), no Rio de Janeiro. Vive seis meses em cada uma delas.
Ávila é convidado para palestrar e participar de seminários de matemática no mundo todo.
“Gosto de falar de matemática mas com foco na parte mais criativa. Matemática não é árida, tem acesso a muitos recursos. O problema é que na escola o aluno só tem contato com a parte árida, com as regras, as fórmula aqui e ali. Isso o computador tá ali e faz. O matemático faz as coisas que o computador não faz, como a parte criativa que não é repetitiva.”
Aluno aplicado, sempre gostou de estudar, mas tinha interesse em “aprender coisas além da escola.” Os pais, que moram no Rio de Janeiro, não são ligados ao meio acadêmico, mas sempre tiveram interesse em satisfazer o interesse do menino sobre matemática, comprando livros.
A estreia nas olimpíadas foi ainda no ensino fundamental, na extinta 7ª série, hoje 8º ano. Ávila foi para três competições internacionais e conquistou medalha de ouro em todas. “Sempre gostei de matemática, mas em olimpíada era diferente. Um professor passou na sala e chamou os alunos para participarem do evento. Fui e gostei logo de cara.”
Ávila fez graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e cursou o mestrado e o doutorado em matemática concomitantemente, no Impa. Aos 19 anos, ele começou sua tese de doutorado baseada na teoria de sistemas dinâmicos. Terminou em 2001, quando foi para França fazer pós-doutorado. Optou por não dar aulas, e hoje está mais focado na área de pesquisa de sistemas dinâmicos.
De 2003 a 2008, ele teve uma cadeira permanente no Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), e em 2008 se tornou o diretor de pesquisa mais jovem da instituição. Desde 2009, ele ocupa um posto simultâneo como pesquisador no IMPA, e em 2013 foi eleito membro titular da Academia Brasileira de Ciências.
“É uma profissão que dá muita liberdade de exercer a criatividade, pois é possível escolher o que problema que se vai trabalhar. Não existe hierarquia formal e todo mundo está no mesmo plano, a princípio. No meu caso, as olimpíadas tiveram papel muito importante, foi essencial, aconteceu num momento apropriado e não poderia ter funcionado melhor. Sou muito agradecido por ter tido essa oportunidade.”
Aluno aplicado, sempre gostou de estudar, mas tinha interesse em “aprender coisas além da escola.” Os pais, que moram no Rio de Janeiro, não são ligados ao meio acadêmico, mas sempre tiveram interesse em satisfazer o interesse do menino sobre matemática, comprando livros.
A estreia nas olimpíadas foi ainda no ensino fundamental, na extinta 7ª série, hoje 8º ano. Ávila foi para três competições internacionais e conquistou medalha de ouro em todas. “Sempre gostei de matemática, mas em olimpíada era diferente. Um professor passou na sala e chamou os alunos para participarem do evento. Fui e gostei logo de cara.”
Ávila fez graduação na Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) e cursou o mestrado e o doutorado em matemática concomitantemente, no Impa. Aos 19 anos, ele começou sua tese de doutorado baseada na teoria de sistemas dinâmicos. Terminou em 2001, quando foi para França fazer pós-doutorado. Optou por não dar aulas, e hoje está mais focado na área de pesquisa de sistemas dinâmicos.
De 2003 a 2008, ele teve uma cadeira permanente no Centro Nacional de Pesquisa Científica da França (CNRS), e em 2008 se tornou o diretor de pesquisa mais jovem da instituição. Desde 2009, ele ocupa um posto simultâneo como pesquisador no IMPA, e em 2013 foi eleito membro titular da Academia Brasileira de Ciências.
“É uma profissão que dá muita liberdade de exercer a criatividade, pois é possível escolher o que problema que se vai trabalhar. Não existe hierarquia formal e todo mundo está no mesmo plano, a princípio. No meu caso, as olimpíadas tiveram papel muito importante, foi essencial, aconteceu num momento apropriado e não poderia ter funcionado melhor. Sou muito agradecido por ter tido essa oportunidade.”
Via G1

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