sábado, 5 de abril de 2014

Agora santo, padre Anchieta foi fundador de São Paulo

Páteo do Colégio é um dos marcos da passagem dele pela cidade.
Ele é o terceiro santo do Brasil canonizado pelo Vaticano.


Declarado santo nesta quinta-feira (3) mais de quatro séculos depois de sua morte, o padre José de Anchieta, além de catequizar índios, fundou a cidade de São Paulo.
Enviado ao “novo mundo” a mando do criador da Companhia de Jesus, Inácio de Loyola, Anchieta pisou em terras brasileiras aos 19 anos, em 13 de julho de 1553. Jesuíta como o novo papa, ajudou a desbravar a nova colônia portuguesa em missões evangelizadoras ao lado do padre Manoel da Nóbrega.

Marcos de sua passagem são lembrados desde São Paulo a Salvador. “Anchieta teve uma fortíssima contribuição na formação de nossa nacionalidade”, disse ao G1 o padre Cesar Augusto dos Santos, vice-postulador da canonização de Anchieta. “Não é á toa que ele aparece na grade escolar quando estamos no curso primário, ao lado de outros personagens de nossa história.”
Um dos maiores marcos da presença do novo santo está na capital paulista: o Páteo do Colégio, no Centro da cidade. Em 1554, o então jovem padre recebeu de seu superior a missão de subir a Serra do Mar para fundar um colégio no Planalto de Piratininga. “A atuação de mestre Anchieta foi tal que famílias indígenas e portuguesas deixavam suas terras e se mudavam para o entorno do colégio. Aos poucos o casario foi se transformando em aldeamento, este em vila e esta em cidade”, disse o padre. “Essa megalópole deve sua origem à ação educadora do apóstolo [Anchieta].”

Atualmente, o Páteo abriga uma igreja e um museu em homenagem ao novo santo. O templo (que, por sinal, será renomeado de Igreja Beato José de Anchieta para Igreja São José de Anchieta) tem um oratório com relíquias de Anchieta: o manto restaurado que ele utilizou em suas caminhadas pelo Brasil e um pedaço de seu fêmur. Também foi obra sua a Igreja de São Miguel, na Zona Leste da capital. Ainda em pé, o edifício deu origem ao bairro de São Miguel Paulista.

São Paulo foi apenas um dos pontos do Brasil por onde o santo passou. Dotado de uma energia quase sobre-humana, ele costumava fazer longas viagens a pé, pelo litoral. Nessas andanças ele deixou sua marca em cidades do litoral paulista, como Ubatuba. Fluente na língua tupi, tentou, em 1563, firmar a paz com índios tamoios, mas acabou ficando refém por cerca de cinco meses. Nas areias da praia de Iperoig (hoje praia do Cruzeiro), ele escreveu um poema dedicado a Maria (tal episódio foi eternizado por Benedito Calixto no quadro “Poema à Virgem Maria”).

Depois de libertado, continuou suas caminhadas. Teve papel ativo na fundação do Rio de Janeiro, seguiu até Salvador, passou por vilas recém-formadas e terminou sua jornada em Reritiba (ES). Foi na aldeia capixaba fundada por ele que, em 9 de junho 1597, aos 63 anos, morreu. A cidade que surgiu de Reritiba, não por acaso, recebeu o nome de Anchieta (veja reportagem do Jornal Nacional ao lado).


Milagres
Geralmente, a Igreja exige que ao menos dois milagres sejam comprovados para que uma pessoa seja considerada santa. Mais raros são os casos como os de Anchieta. Apesar de milhares de relatos de graças atribuídas ao novo santo, o “apóstolo do Brasil” não precisou ter os supostos milagres submetidos a exames de especialistas. “Para a canonização estávamos analisando três possíveis milagres, quando fui orientado a deixá-los de lado e estudar a amplitude da devoção. A Santa Sé estava se voltando para um antigo costume que faz a outra possibilidade de canonização, a amplitude da devoção ao candidato”, disse o padre Augusto.


Os responsáveis pelo processo de canonização afirmam que Anchieta tem ao menos 50 devotos em cada estado do Brasil. A adoração a ele é evidente em todo o país: além de igrejas e altares erguidos em sua homenagem, há escolas, hospitais, instituições, ruas e prédios públicos que levam seu nome. “Culto a Anchieta, seja cívico, cultural ou religioso, é uma realidade brasileira”, completou o vice-postulador da canonização.

Anchieta é o terceiro brasileiro considerado santo; apesar de ter nascido no arquipélago espanhol das Ilhas Canárias, o padre passou a maior parte da vida (e produziu sua obra) no Brasil. Os outros dois santos do Brasil são Madre Paulina, tornada santa por João Paulo 2º em 2002, e Frei Galvão, canonizado pelo papa Bento 16 em 2007.

Via G1

Nenhum comentário :

Postar um comentário

Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...