segunda-feira, 27 de abril de 2015

Bolsonaro e o palhacinho da menstruação

imageFico sabendo por uma mulher que há coletores de menstruação que substituem os absorventes íntimos. Quero saber mais. Por que, pergunta ela, já que não vou usar? Tento explicar. Intuo que a real retomada de poder das mulheres na face da terra passa por aterrisar… na face da terra mesmo. Assumir que coisas como menstruação, pelos e estrias são tão naturais quanto cachoeiras e tempestades. Não como se a mulher fosse como um veículo com assessórios cromados, polidos e trocáveis, mas um corpo, com seus ciclos, manifestações e desgastes.
Daí me dou conta de que, nestes dias, há uma emergência dessa consciência sim. Só entre ontem e hoje vi aleatoriamente fotos de uma “manifestação de estrias” (mulheres publicando suas marcas corporais em defesa da modelo Chrissy Teigen, que foi, err, “criticada” por postar foto não-photoshopada no Instagram), do sovaco cabeludo da Madonna, um ensaio de ex-modelos idosas que assumem seminuas a aparência da idade, e uma matéria dos tais coletores de menstruação em si.
Vários sistemas espirituais atribuem valores à presença do sangue, tanto positivos (condutor mágico) quanto negativos (restrição de atividades pelo “corpo aberto” na menstruação). As bruxas pregam a conexão plena com a natureza – que está dentro e fora – na identidade da mulher com seu próprio corpo. Mas não precisa ir longe, qualquer mulher sabe das sincronias de seu ciclo com o ciclo lunar (aqui há um bom artigo sobre o tema, A Beleza Da Menstruação).
Descubro que, mesmo em meios não- bruxísti- cos, começa a se considerar que o sangue dos coletores pode ser não só descartado como tem outros usos: rituais, naturais (uso nas plantas e na terra), artísticos. (Na foto, Sangro, Pero No Muero, da fotógrafa Isa Sanz). Lembro que arte com sangue menstrual também é garantia de polêmica: porque a sociedade patriarcal tem nojinho. Até na matéria sobre os coletores tem um médico alertando para “bactérias”. Oh. Há bactérias na terra. Como se fossem elas a espécie perigosa.
Hoje também vi um discurso do Bolsonaro. Falando as bobagens de costume, que a OAB defende só bandidos, diminuição da maioridade penal yadda yadda. Mas, como estava em Campo Grande, uma área sensível ao agronegócio, e Bolsonaro é um político oportunista, ele acrescentou um tema não usual ao seu repertório: os índios. Bolsy disse que “Os índios não falam nossa língua, não têm dinheiro, não têm cultura. São povos nativos. Como eles conseguem ter 13% do território nacional?”.
Nossa língua de quem, cara pálida? Antes de chegarmos, eles tinham 100% do território. A “família tradicional brasileira” mora pelada em uma oca. É esse (anti) transe de substituição (pseudo) civilizatória que está tanto na base de não gostar de índio quanto de não gostar de menstruação. Não gostar da terra, não gostar do sangue (a não ser retoricamente). Para o índio, a nossa língua, o nosso dinheiro e a nossa cultura não significam nada mesmo – e é por isso que quanto mais terra eles tiverem mais seguro eu me sentirei. 13% me deixa assustado, é muito pouco, sobra 87% pro Bolsonaro.
Porque nosso projeto civilizatório – nosso não, o do Bolsonaro – falhou. O ser humano se converteu numa praga esquisita, que recobre a terra toda de asfalto porque tem nojinho de lama e de menstruação – ou de monocultura. Hitler e a depilação têm uma coisa em comum, aquele bigodinho jardinado ridículo. E “palhacinho” é o nome que um amigo meu dá para fazer sexo oral na mulher menstruada. Porque será que eu tenho a impressão de que o Bolsonaro não faz isso na senhora Bolsonaro?
Via Yahoo Notícia

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