quinta-feira, 10 de julho de 2014

Polícia prende chefão da Fifa suspeito de liderar máfia dos cambistas na Copa

070714copa-fifa-mafiaA operação das polícias Federal e Civil do Estado do Rio, realizada às 15h30 desta segunda-feira no Hotel Copacabana Palace, prendeu o homem apontado como líder do mercado ilegal de ingressos da Copa do Mundo dentro da cúpula do futebol. Na quadrilha desarticulada pela operaçãoJules Rimet, Ray Whelan estaria acima do franco-argelino Lamine Fofana, preso na semana passada. Whelan é um dos diretores da MATCH, empresa associada à e que tem direitos exclusivos da Fifa para a venda de ingressos para a competição que termina na próxima semana, no Maracanã.
A batida policial dentro da sede da cúpula da Fifa no Brasil foi a primeira vivida pela entidade em anos e cria um profundo mal-estar entre a instituição e o governo brasileiro. A iniciativa ocorre justamente quando a entidade se prepara para a semana mais importante da Copa do Mundo e às vésperas da chegada de vários chefes de Estado.
Embora Whelan não seja um funcionário da Fifa, ele falava em nome da entidade na organização da venda de ingressos e até no credenciamento de hotéis para a Copa. Nos últimos dias, tem sido a porta-voz da Fifa quem tem respondido pelos problemas, e não o porta-voz da Match. A empresa é ainda controlada pela Infront, uma companhia que tem como acionista Phillip Blatter, sobrinho do presidente da Fifa, Joseph Blatter.
A suspeita sobre Whelan surgiu depois que a polícia descobriu um grupo que comercializava há meses ingressos para a Copa. Na semana passada, onze deles foram presos. Inicialmente, a suspeita era de que o franco-argelino Lamine Fofana fosse o responsável pela quadrilha. Mas escutas telefônicas apontaram que havia alguém acima de Fofana, com todos os privilégios e condições de abastecer o grupo com as melhores entradas para o Mundial, muitas delas de camarote.
O suspeito estava, praticamente, morando no Brasil desde 2011. Ele percorreu o país na condição de diretor executivo da Match Services promovendo pacotes vip para as diversas arenas que receberam jogos da Copa. Entre suas funções estava a de credenciar hotéis nas cidades-sede. Nos últimos dias, ele foi visto por jornalistas no Copacabana Palace, justamente o local que serve de base para a Fifa no Rio e onde os cambistas iam buscar os pacotes.
A batida no luxuoso Hotel do Rio pegou a Fifa de surpresa. Até o momento da operação, cartolas e dirigentes insistiam junto aos jornalistas que não acreditavam que qualquer prisão ou questionamento ocorreria dentro da entidade ou com empresas parceiras.
A MATCH é a única empresa autorizada pela Fifa para venda de pacotes de ingressos e camarotes da Copa. Envolvido nas investigações, o sobrinho do presidente da federação internacional, Phillip Blatter preside a Infront Sports & Media, que é acionista minoritária (5%) da Match. Barucke afirmou que, mesmo com a operação policial em curso, o suspeito não teria deixado o Brasil.
– A colaboração de José Massih (um dos 11 presos sob suspeita de integrarem a quadrilha, na última semana) foi imprescindível para a gente chegar a essa pessoa. A Fifa enviou a lista dos credenciados, que bateu com as declarações dele – disse o promotor de Investigação Penal Marcos Kac.
Entre os 11 presos está o franco-argelino Lamine Fofana, que inicialmente foi apontado como chefe da quadrilha. O suspeito identificado nesta semana pela polícia seria o dono do celular oficial da Fifa que recebia ligações de Fofana interceptadas em centenas de gravações autorizadas pela Justiça na operação batizada de Jules Rimet.
Barucke disse que o nome do suspeito – que seria ligado à Fifa ou à MATCH – ainda não será divulgado para não atrapalhar a investigação.
Na última terça-feira, a Polícia Civil do Rio prendeu 11 pessoas suspeitas de integrar uma quadrilha de desvio e venda ilegal de ingressos para Copa do Mundo. A operação, batizada de Jules Rimet, teve apoio Ministério Público e do Juizado do Torcedor e já vinha sendo conduzida há dois meses.
Mais de uma centena de bilhetes foram apreendidos com as pessoas presas. Os bilhetes comercializados, segundo as investigações, eram de cotas cedidas pela Fifa a patrocinadores e delegações de seleções. O esquema funcionaria desde a Copa de 2002, realizada na Coreia do Sul e no Japão. Ainda de acordo com as investigações, o grupo faturava até R$ 1 milhão por jogo.
A polícia fez prisões no Rio e em São Paulo. Entre os presos está Fofana. Durante a semana, o promotor do caso, Marcos Kac, disse abertamente que havia um integrante "graúdo" da Fifa envolvido no esquema. Até o momento, seu nome não foi divulgado. A Fifa, por sua vez, nega que funcionários da entidade teriam relação com cambistas. Segundo o delegado Fabio Barucke, da Polícia Civil, um funcionário da Fifa e outro da empresa Match Services, responsável pela venda de ingressos da Copa, são suspeitos de participarem da quadrilha. Além deles, um chinês atuaria em São Paulo negociando ingressos para a quadrilha.
Há uma semana, dois norte-americanos e uma italiana foram presos em flagrante ingressos para a Copa, que vendiam pelos sites das empresas Ludus Tours e Red Carpet. Entre os ingressos que a polícia informou ter apreendido durante a operação, aparece um com o nome de Humberto Mario Grondona, filho mais velho do presidente da Associação de Futebol da Argentina (AFA) e vice da Fifa, Julio Grondona. O filho do cartola negou participação no esquema. Procurada pela Folha, a AFA disse desconhecer qualquer esquema de desvio de ingressos da Copa.
A Fifa, que inicialmente havia dito que o caso de Grondona já estava esclarecido, informou neste domingo que pedirá esclarecimentos por escrito ao filho do cartola.

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